terça-feira, 15 de dezembro de 2009

3 minutos no espelho

Lavei o rosto, as mãos e joguei uma água no cabelo. Não lembro se foi nessa ordem, mas fiz tudo isso.
Apoiei as duas mãos na pia, avancei meu corpo em direção ao espelho e me vi ridículo. Estava completamente bêbado.
Me diverti alguns segundos apagando e acendendo a luz, vendo minhas pupilas se dilatarem e se comprimirem. Acho que foram uns 3 minutos na frente do espelho.

Era mais uma festa universitária, todos aqueles futuros profissionais comemorando alguma coisa. Bebendo como se seus corpos fossem baldes de plástico, fumando como se fossem filtros super poderosos e outros cheirando sem a menor vergonha - o cangote de quem seja -. Continuava a me olhar no espelho, ridículo.
Bateram na porta algumas vezes, mas desistiram.
- Quem é você, cara?! O que você está fazendo?! - Me perguntaram.
- Porra bicho, to me divertindo! Você deveria fazer o mesmo do que ficar aí, se olhando que nem um fracassado.
- E que sucesso se tem absorvendo cachaça que nem uma esponja?
- Cala a boca! Você viu quantas minas estão lá dando sopa?
- Eu vi cara... são esponjosas como você.
Meu debate comigo mesmo foi ficando tenso até que eu dei um murro nele, em mim, sei lá. No espelho!

Ouviram o barulho dos cacos de vidro e da porcelana da pia, não medi a força do apoio e derrubei a pia também. Arrombaram a porta.
- Maluco, que porra é essa na sua mão?
- Não sei cara, eu escorreguei... é sangue, é vidro, é porcelana ...
- É vergonha e cachaça. - Alguém no caco de vidro respondeu pra mim.
Saí carregado do banheiro para a área da piscina, virei o centro das atenções. O DJ abaixou o volume e, quase que no ritmo, minha pressão abaixou junto.
Lembro dos meus amigos agaixados me ajudando -estavam pouca coisa menos bêbados que eu-, a cena estava em câmera lenta, eles davam alguns tapas no meu rosto, apertavam o meu braço, outros vieram ajudar e gritavam por uma ambulância, a minha respiração ficava cada vez mais lenta também, algumas pessoas riam da situação, eu não conseguia expressar o que eu estava querendo dizer, minha fala estava pesada, meus braços também, o sangue não chegou na piscina graças aos panos que me cercavam, algumas garrafas no chão - ao longe - pareciam querer participar da cerimônia, a ambulância não chegava e havia um pedaço de espelho no meu braço ainda. Fixei meu olhar nele.

O vidro refletia o céu azul. O dia estava lindo - e eu ridículo -, dia perfeito para uma festa na piscina. Vi poucas nuvens, não vi pássaros, nem aviões, nem o reflexo de ninguém, nem o meu próprio reflexo -eu não tinha mais nenhum-. Movimentaram meu braço de uma maneira que o espelho refletiu a luz do sol nos meus olhos, fiquei cego por alguns instantes e apaguei.

Acordei num carro de desconhecidos, diziam que me levariam ao hospital. Disseram que eram organizadores da festa, mas não lembro o nome deles. Chegamos. Ao sair do carro, apaguei novamente.

Lembro de sentir as pessoas a minha volta. Eu não conseguia abrir os olhos ou reagir qualquer movimento. Me sentia bem, queria dizer-lhes que eu estava bem:
- Ei galera!!! É zoeira!!! Ta tudo de boas!!!
Mas eu não consegui. Me concentrei, forcei para abrir os olhos e assustei com um espelho na minha cara. Na verdade não era bem um espelho, mas um vidro que cobria o meu rosto.
Me concentrei forte por três minutos e consegui levantar. Vi minha mãe aos prantos dizendo incessantemente:
- Meu filho, lindo.. lind... lin...
- Calma mãe, tá tudo bem! - e a abracei fortemente.
Ela permaneceu chorando e olhava fixamente para atrás de mim, pra minha cama. Perguntava a todos o que estava acontecendo, apenas balançavam a cabeça em movimento de negação triste, mas eu estava ótimo. Quando olhei para minha cama, me vi novamente, dessa vez não havia espelho algum.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Quando eu envelhecer...

Quem gosta de fazer planos, ganha destaque. Quem conclui os planos é destaque.


Você já se imaginou daqui 5, 10 ou 20 anos? Se não, “perca” 10 minutos escrevendo sobre como você se vê lá. Se já pensou, você escreveu?
E 5 anos atrás, você se lembra como se via hoje? (se não entendeu, leia de novo, eu demorei pra entender...)
Bom, eu nunca fiz nada disso. Apenas tenho remotas lembranças do meu futuro.

Quando eu tinha 7 anos, eu achava que casaria com 23 e me orgulhava por ter sido o primeiro da turma do prezinho a aprender a ler. Hoje eu tenho 22, não tenho nem namorada e não estou lendo nenhum livro.
Quando eu tinha 10 anos, eu achava que moraria sozinho com 23. Hoje eu tenho 22 e a única coisa que tenho é um notebook, uma bicicleta (com pneu furado) e algumas contas.
Quando eu tinha 12 anos, eu jogava bola, pulava o portão e nadava como ninguém. Hoje eu tenho 22, vou comprar pão de carro e morro pra subir as escadas rolantes do metrô.

Sou uma decepção para o meu passado. Queria ser herói, mas eu sou eu mesmo.

sábado, 11 de julho de 2009

Caixa velha

Hoje foi dia de mudança em casa. Estou no mesmo endereço, apenas levei minhas coisas pro quarto do meu irmão, que se casou há um tempinho. Agora o quarto é meu.

Mudança lembra bagunça, e dessa bagunça muitas coisas vão pro lixo e alguns lixos acabam mexendo com a gente de alguma maneira.
Revirei meu armário tirando todas as roupas, calçados, meias e todo o resto. Levei tudo para o corredor. Ainda restavam algumas coisas no armário do meu irmão ( que agora é meu ) retirei as gravatas, as meias e um cobertor que não estava no lugar certo, as malas continuariam no maleiro, voltei pro meu quarto, peguei as caixas de sapato que só estavam ali para ocupar espaço e retirei-as, uma a uma. Pegava uma e arremessava no corredor, outra idem, outra rasgava, outra pesada.. Perae! Abri a caixa para ver o que tinha dentro e não havia nada além de lembranças.

Cartas escritas por ex-namoradas, correspondências de antigos amigos, fotos velhas, uns penduricalhos diferentes, papeis irreconhecíveis, entre outros pedaços de recordações, apenas isso. Voltei ao passado por 30 minutos. Tudo passou como um filme envelhecido na minha mente. Estilo aqueles que passam acelerados em tom sépia, com alguns chuviscos.

Pensei muito naquele abraço do amigo que nunca mais aparecerá em outra foto, naquele bilhetinho de juras de amor eterno provavelmente não terá outro com valor igual - mas quem disse que tem que ter? - uma folha frente e verso sem assinar com poesias, dois correios elegantes, um deles sem assinar também, uma foto na roda-gigante, outra foto embaixo d´água, fotos de quando a família era unida com parentes de até terceiro grau, andávamos de scuna quase todo mês, outra foto deitados na sala não importando com quem, nem em que sala. Mas deu saudade.

Não saudade de alguém, mas saudade da época. Tudo era engraçado, hoje as brigas do passado são engraçadas, tudo o que já foi sério ficou engraçado, só eu, que me achava engraçado, fiquei mais sério, talvez ache isso engraçado um dia, mas por hora não. Engraçada essa contradição, não?!

Mas a caixa velha e empoeirada ainda guarda muito mais do que lembranças, guarda uma época fantástica, uma época que não voltará, uma época de amizades infinitas, de pouco dinheiro e muita diversão, de muita diversão e pouco risco, de pouco risco e muita diversão. Guarda ainda meus tempos de insegurança, como era bom não saber das coisas, não que eu saiba, mas as dúvidas de antigamente eram mais sensatas, faziam mais sentido. Ou não.

Hoje eu não tenho uma caixa pra guardar minhas lembranças, tudo está escancarado pra quem quer ver. Todos sabem dos meus anseios indiretamente, não matuto mais as minhas dúvidas, fiquei mais corajoso e mais covarde em muitas situações que não valem ser citadas, mas provavelmente você já saiba ou desconfie, afinal o livro está aberto, então fechei a caixa e o armário.

Minhas recordações não são um lixo, são apenas uma bagunça, e eu que me achava um cara organizado.

Havia ainda muito trabalho a ser feito continuei a limpar os armários e continuar a mudança. Mudança.
E meu irmão, que me acompanhou e viveu muitas coisas parecidas, está casado. Não sei se ele tem, mas talvez todos devam ter sua caixa velha muito bem guardada.
A mudança é contínua.

terça-feira, 24 de março de 2009

É cada uma...

Eu trabalho no décimo andar de um prédio que tem 11.

O hall deste andar é simples e frio. Ao sair pro hall, há dois elevadores e no fim do corredor – que nem dá pra correr de tão pequeno –, ao lado esquerdo, tem uma porta grande que é o acesso às escadas internas do prédio, ao lado desta porta há duas janelas que dão visão para um outro imenso prédio comercial. Todos os dias eu paro uns cinco minutos pra tomar um café e pra admirar detalhadamente essa paisagem.

Ele é mais alto, mas nunca parei pra ver o quanto. Ele é ladrilhado em vários tons de azul claro e azul escuro. De longe não dá pra perceber isso, são como pixels que formam um único tom de azul.

As pessoas do prédio ao lado não se importam em baixarem sempre suas persianas e eu fico olhando todas as salas que eu consigo.

Tem um cara com um computador com uma tela de umas 40 polegadas, parece uma TV. Esse gosta de ver tudo grande.
Aquela tela é realmente bonita, sempre tem um mapa do google maps aberto ou um gráfico que nem imagino do que seja. Não dá pra ler.

Na janela de baixo tem uma menina linda que, por várias vezes, já a peguei segurando o ventilador de frente pra si balançando os cabelos por muito tempo, até não conseguir respirar. É engraçado. Uma graça, ainda vou conhecê-la. Tem uma faxineira, na mesma sala, que sempre derruba panos pela janela.
Na sala ao lado tem um cara que faz malabares com bolinhas de papel. Sozinho. Sem querer fazer graça pra ninguém. Quando comecei a trabalhar aqui ele fazia só com duas bolinhas, hoje já consegue com quatro e arrisca, de vez em quando, com cinco.

Nunca vi nenhum chefe dando uns catas na secretária ou um empregado vendo sacanagem na internet. Já vi comemorações de aniversário – confesso que até eu queria um pedaço daquele bolo – e já vi algumas discussões também.
Em dias de chuva alguns esquecem de fechar a janela e quando se dão conta já está tudo ensopado.

De vez em quando fico imaginando o que essas pessoas gostam de fazer quando não estão no trabalho. A menina do ventilador, por exemplo, com seus cabelos compridos ao vento, deve sonhar ser modelo. Ou pára-quedista? O malabarista talvez queira ser barman, trabalhar com artes circenses, ou não saiba nem o que ele deve fazer na empresa, quanto mais fora. A faxineira deve ter problemas demais e acaba se descuidando, derrubando tudo.

Tem um restaurante aqui na frente onde muitas pessoas destes prédios comerciais vão almoçar e é mais um lugar que eu gosto de ir. A comida é gostosa, a maioria das meninas também, as pessoas são bonitas, o ambiente é agradável e tem uma TV gigante passando Globo Esporte.

Eu fico olhando as pessoas.
Umas aparentam estarem preocupadas demais, ficam remexendo a comida, tomam o suco pela metade, as mãos não saem da testa e a gravata é afrouxada diversas vezes.
Outras dão risada de tudo, a ponto de quase não deixarem-me ouvir a TV ou a conversa do pessoal da mesa de trás.

Por falar nisso uma vez peguei essa galera falando de outras pessoas.
Falaram que o Fernando é viciado em filme pornô. O Julio cola tudo que sai de seu nariz embaixo da própria mesa e a Dona Geni, entendi ser a faxineira da empresa, disse que não limparia “aqueles coisos” por nada. A 'periguete' Fernanda saiu com dois no sábado, um a tarde e outro a noite. O Carlos veio duas vezes bêbado trabalhar na última semana, mas pelo menos fez o que tinha que fazer. Falaram do porteiro, que sempre lança uma cantada pra Isa. Comentaram que tem um cara no prédio vizinho que cada dia ta com um cabelo diferente. As vezes veste social, as vezes parece que acabou de acordar. É meio-loiro-meio-castanho-claro. Vive com uma mochila nas costas e encosta na janela todo dia pra tomar café e fica olhando pros andares de baixo fazendo comentários pra si mesmo. O cara não deve ter o que fazer.

Se tem uma coisa que eu odeio são pessoas bisbilhoteiras que ficam falando e vendo o que as outras pessoas fazem ou deixam de fazer. É cada uma...

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Todo carnaval tem seu fim

Quem é que não gosta de carnaval? Mesmo que não goste dos desfiles e de toda algazarra, gosta do feriado. É oportuno falar deste momento de alegria, samba, curtição, azaração, festas, bebidas e crise.
Dizem que o Brasil só funciona depois do carnaval; que este então passe logo. Funcione.
Estou com uma sensação estranha de querer curtir, azarar, de querer passar, de torcer, de ficar confuso, de fazer contas e contas. Contas, essas sim adoram me azarar.
Sempre fugi de qualquer oportunidade ou curso de faculdade que pudesse ouvir a palavra “conta” e lá vou eu contar o quanto odeio fazer contas, cálculos e mais cálculos pra ver se o resultado será divisível por 30.
Dizem também que quanto mais se tem, mais se quer. Acho que essa afirmação tem 50% de verdade. Eu apenas mais quero, mas nunca tenho mais. É incrível o quanto mais água, maior é o bueiro.
Esse mês o aluguel vai ficar pro mês que vem, pois este tem a fatura do cartão de crédito que vem do mês passado. Ando vivendo num malabarismo de papéis, lápis, calculadoras, moedas e humor.
Que crise! Isso me faz lembrar de namoro, namoro é que tem crise. Eu não. Tinha.
Mas de nada vale ficar chorando as pitangas. Ainda tenho que ir à feira.
Hoje o texto é curto, assim como a minha verba. É pequeno, simples e direto, assim como o saldo da minha conta bancária. Hoje o texto está mais do que incompleto. Está.
Bom carnaval pra todo mundo!

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

O tempo, a chuva e o chafariz.

Era quinze de Abril.
Depois de uma noite mal dormida, um ‘ontem’ pior ainda, nós estávamos no banco do gramado do parque vendo os patos comendo a grama que estava invadindo o lago pela margem.
O reflexo da ponte, que cortava o lago, na água, era fantástico. Nesse momento os esguichos do lago, que faziam uns desenhos bonitos no ar, estavam desligados. Podíamos ver mais dois casais do outro lado fazendo a mesma coisa que nós, ouvíamos as risadas das crianças que andavam de bicicleta pelo parque, mas eram quase cobertas pelo barulho das árvores balançando.
Estava sol, mas estávamos à sombra. Não estava muito calor e o vento estava gostoso.
- No que você está pensando? – ela me perguntou
- Em nada, por quê?
- Depois de ontem, consegue não pensar em nada num lugar assim?
- Quer dizer algo? No que você está pensando?

Eu não estava pensando em nada mesmo, só estava curtindo o lugar onde estávamos. E do mais, achei que aquele assunto estava encerrado.
Nos “desabraçamos”, ela pediu para sentarmos um de frente pro outro. Ela segurou as minhas mãos, mediu cada parte do meu corpo e olhou pra mim fixamente. Durante uns 5 minutos. Em silêncio.

Nesses 5 minutos deu tempo de fazer uma retrospectiva desde quando havíamos nos conhecido. Fiquei olhando pro nada durante esse tempo.
No início eu não gostava muito dela, pra ser bem sincero eu tinha uma antipatia que nunca tive por ninguém. Garota mimada, que se acha, diz coisas meio sem nexo e nem era tão bonita assim quanto os outros diziam ser.
Eu não conseguia ficar no mesmo ambiente que ela. Ela chegava falando alto, abraçando todo mundo, - realmente ela era bem popular, nunca tinha ouvido alguém falar mal dela – e eu nunca gostava de nada que ela fazia. Pra mim ela era muito artificial. Um dia ela veio falar comigo:

- Ei... você não é o rapaz, amigo dos garotos daquela banda de rock?
- É.. Eu sou o “ R A P A Z ” amigo deles sim.
- Posso me sentar com você?
- Na verdade não, tenho ânsia só de ouvir a sua voz. – eu pensei – mas acabei dizendo:
- Pode, claro!

Encontramos-nos no Intermunicipal Circular - 154, no centro de São Paulo e por infelicidade minha, ela iria para o mesmo lugar que eu. Desceríamos na estação de São Caetano e, por mais uma maldição do destino, ela pegaria o mesmo ônibus que eu pra casa dela, e, se desgraça pouca é bobagem, falou que desceria depois de mim. Parecia que ia chover, mas no caminho não choveu e não pegamos muito trânsito, ainda bem!

- Vi você junto do pessoal da banda várias vezes, mas nunca fomos apresentados.
- É...
- Então, você os conhece da onde? Você toca algum instrumento? Nossa, eu adoro a banda deles! Comprei até um violão, mas acho muito difícil tocar. Você pelo jeito também gosta, né? Teve um baile que eu fui e eles tocaram, não sei se você estava, nossa! ...

Pelo amor de Deus, alguém costure a boca desse papagaio-humano!
Na minha vida eu já conheci garotas que gostam de falar, vendedoras de Yakult, Avon, Herbalife, vizinhas fofoqueiras e tias futriqueiras, mas gostar de falar que nem essa garota, eu nunca tinha visto igual.
Eu tinha acabado de almoçar, estava com sono. Minha cabeça estava quase explodindo a dela. Sabe quando as pessoas falam com você e você só responde “Aham”... “É?!” ... “Hum... poxa!”, mas na verdade você nem imagina do que ela está falando? Foi assim durante 35 minutos dos 40 que passamos no ônibus vindo pra São Caetano.

Na estação de São Caetano, tive certeza que desceria uns 5 pontos antes do meu pois não agüentaria tanto tempo com ela.

- Bla Bla bla... Bla bla bla... Bla bla bla...
- Humm... poxa!
- Bla Bla bla... Bla bla bla... Bla bla bla...
- É?!


Desci. Passava das 15:30h.
Ahh! Que alívio!
Viaturas policiais, as sirenes soavam como canções! Latidos, isso! Latam! Latam mais! Depois de descer daquele ônibus, descobri que adoro cães bravos, caminhões de lixo, buzinas e feira livre!

Então olhei para aqueles lábios falantes que já não diziam muita coisa havia um tempo e me aproximei. Eles estavam molhados, assim como seus olhos e o resto de seu rosto. Os esguichos do lado acabavam de ser ligados. Mas não pude chegar tão perto...

Andava já há uns 10 minutos, quando mudei de calçada e vi de longe, vindo em minha direção, uma moça. Pensei: “Que broto!" – e ri sozinho
Ela foi se aproximando e quando cheguei perto não acreditei:

- Ué ?! Não ia descer quase no ponto final? - perguntei
- Na verdade eu moro duas quadras da estação. Resolvi dar uma voltinha de ônibus... e o nosso papo estava tão bom! Daqui vou a pé mesmo.
- Humm...
- ...
- Bom, então ta...
- Ta... Então nos vemos por aí...
- É... Acho que sim...
- Tá...
- Ta... então tchau.
- Tchau...


Segui meu caminho e ela seguiu o dela, experimentei dar uma olhada pra trás, não sei por que. Ela fez a mesma coisa e me mandou um tchau de longe.

Mais à noite, como de praxe, fui acompanhar a banda dos meus amigos que tocariam num clube perto de casa. Senti, apesar de que era evidente, que a encontraria.
Quase uma da manhã, o salão estava lotado de pessoas, não havia ninguém sentado. Animação frenética, como sempre eram os shows deles. Eu estava com alguns amigos, que hoje, talvez, nem se lembrem de mim. Conversando, rindo, flertando, como acontece em qualquer outra festa.

- Ei... Pegou chuva? – me cutucaram perguntando.
- Não. Não peguei, por quê?
- Nossa! Depois que nos despedimos, acabei pegando uma rua errada quando ia pra casa. Dei uma volta enorme pra me encontrar e começou a chover. Passou um carro numa poça, me molhou toda, aí acabei tropeçando numa garrafa vermelha, acho que era de vinho, aí....
- Aí você se achou e chegou em casa, né? –
atravessei pra resumir
- Não... Você nem imagina... aí... quando eu achei que tinha me achado veio um cachorro...
- To ferrado! De novo. –
pensei.
Com aquela barulheira, acabamos indo “conversar” - entre aspas, porque só ela falava - lá fora do salão, perto das piscinas.
Durante nossa conversa vieram várias amigas e amigos dela que a procurava pelo salão e ela sempre dava um jeito de dispensá-los.
Ela me contou que seu cachorro chamava-se Thor, mas havia o deixado na chácara, pois era muito grande. Que sua avó morava no centro de SP, que sua fruta preferida era maçã, que a melhor professora dela foi a Dona Helena do pré-três, que sua cor preferida era amarela, que queria ter dois filhos, que comprou uma blusa verde, mas quando chegou em casa não gostou e foi trocar por uma branca no dia seguinte, que gostava de sorvete de flocos, que nunca havia repetido de ano, que não gostava de rock, que estava apaixonada por mim, que ?!

- Que?! – perguntei assustado
- É... faz um tempo que...

Ela olhou pra baixo e quando olhou pra mim de novo já veio me beijando.
E eu não impedi. Lógico! Era uma das garotas mais cobiçadas da época (meus amigos morreriam de inveja e as outras garotas, que eu queria um lance, ou sairiam comigo pra se promover – afinal eu beijei a garota mais popular, logo meu nome estaria aos ventos por aí – ou ficariam com raiva de mim, tem loca pra tudo), e o principal!!! Ela, me beijando, ficaria sem falar por um bom tempo.

Era quinze de abril, 3:45h da manhã, começava a chover e as gotas do chafariz nos molhava inteiros como naquela chuva 25 anos atrás. Chamamos as crianças que estavam andando de bicicleta, levantamos do banco, nos abraçamos e fomos pra casa.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Amor de verão

Ah.. o verão. Garotas bonitas andando de bikini pra lá e pra cá. Sons da moda “bombando” nos carros. Festas, bebedeiras, crianças com protetores solares na cara, catarrentas e tossindo em toda praia...

- Nossa! Me desculpa?! Não vi você. Eu estava distraída. Machucou? – ela
- Não.. não...
- Não machucou ou não me desculpa ? – ela sorrindo
- Não machucou...
- Qual é o seu nome?

Conheci uma das garotas mais lindas que já vi. E por ela eu confesso estar apaixonado, amando, iludido ou besta, que dá na mesma.

Estava calor nesta noite de quinta-feira, típica de verão, e eu sem nenhum compromisso. Era um daqueles raros dias que seus amigos querem fazer as mesmas coisas que você.
O Fernando passou em casa com o Lulo, Fábio, Biga e Hermano - o Vinicinhus disse que nos encontraria lá no Bar Aurora -. O Chileno disse que precisava estudar para a prova de Protética que teria dali oito semanas e não foi.
Carro abarrotado. Demos a tradicional passada no Extra pra fazer o esquenta e, já no caminho, percebíamos que a noite ia ser longa. Todo mundo animado, rindo de qualquer coisa, curtindo um som e o famoso pirata com coca.

O sol escaldante mal deixava eu pisar na areia mesmo com aquele vento fortíssimo que levava vários guarda-sóis pra lá e pra cá.
Vi uma mãe passando protetor no filho que chorava por um sorvete.
O “Tinkwinki” vendendo algodão doce devia estar derretendo dentro daquela sauna, assim como o “Pikachu”.

A cada farol fechado era uma gracinha lançada para o carro ao lado. - Daquelas coisas ridículas para quem vê e divertidíssimas para quem participa. -
Já passava das 23h e ainda não havíamos chegado ao Bar. Não estávamos nos importando com o horário esse dia, o Biga estava de férias, por isso ele foi.
Fernando deu umas buzinadas pra animar chegando no estacionamento.
Encontramos o Vinícius na fila já conversando com um pessoal, os cumprimentamos e, entre eles, havia uma menina linda de olhos claros e cabelos castanhos, mais ou menos 1,70, nem magra, nem gorda, branquinha, não estava muito maquiada, mas produzida para uma festa, menina engraçada, nada de falar alto ou ser muito além de simpática, totalmente ‘meu número’.

Eu sem nenhum guarda-sol, sem boné, só de regata, bermuda e chinelo e míseros dez reais no bolso para uma emergência.
Aquele sol me tostando e a galera na água. Ia entrar no mar de roupa, dinheiro e tudo mais, eu não estava agüentando.

A cada mudança de assunto, eu notava atentamente o olhar atento dela à todas bobagens que falávamos.
A fila andava e eu nem percebi que já estávamos na porta.
Ela, com suas amigas e amigos entraram. Nós nos viramos um pro outro e não precisamos dizer uma palavra para entender o que cada um estava pensando.
- Ééé, tem que ver isso ae...

Indo em direção ao mar acabei tropeçando num castelinho de areia ( castelinho modo de falar, por que aquilo não passava de uma montanha com janelas ) e começou uma choradeira.
- Buáá.. Buáááá.... Ahhhhhhhh!!!!
- 'Ahhhh!' Digo eu se não calarem a boca!!! (pensei com uma vergonhaeraiva daquelas 3 crianças pirracentas ).

Lá dentro, no Aurora, “me perdi” de todo mundo pra ver se a encontrava. Estava escuro, poucas luzes imitavam chamas de vela na parede, havia algumas TVs de plasma passando clipes, mas nesse momento estava passando uma entrevista com o Lulu Santos, tentei prestar atenção por 5 segundos, mas foquei na minha ‘caçada’. Decidi ir para o segundo andar onde disseram ter um cara com um violão. Subi dois lances de escada, desviei de um cara que não parava de vomitar, pedi ‘licença’ para um casal que estava se pegando, e daquele conhecido e tradicional trânsito na balada.

Eu até pensei em pedir desculpas por pisar naquele monte de areia, mas fiquei com tanta raiva que acabei por destruir tudo.
- Ei... o que você está fazendo? – uma mulher veio falando.
- O que parece que eu estou fazendo? – Eu perdi o controle e falei mais alto.
- Esse castelinho era do meu filho e dos meus sobrinhos, você não...

Foi quando percebi a mudança real do ambiente.
- “De segunda a segunda fico louco pra te ver. Quando eu te ligo, você quase nunca está, isso era outra coisa que eu queria te dizer. Não temos tempo, então melhor deixar pra lá...”

O cara com o violão chamava-se “Tales MPB”, pude ver pelo banner branco, simples, que estava pendurado ao lado de seu amplificador. Enquanto ele tocava “Carolina” eu procurava a “Garota sem nome” – puta vacilo esquecer/não perguntar o nome de uma menina, mas elas sabem que é difícil pra gente, né?! -.
Estava cansando de andar, peguei uma coca, sentei um pouco, ouvi mais umas três músicas e desci novamente pra encontrar os vermes dos meus amigos.
Já passavam das 2h e a noite animada e promissora já estava cansada, desanimada e, por mim, terminada.

- Eu não o que? Eles construíram o castelo no meu caminho...
Eu agachei e olhei fixamente para um dos chorões:
- Você construiu o castelo no caminho dos gigantes mágicos e agora você será punido.
Em 10 minutos de encenações magníficas e micos que prefiro não comentar, era eu, “O Gigante Hugo”, que estava sendo enterrado pelas 3 crianças lindas e encantadoras.
Depois da brincadeira sentei com a família à sombra de um guarda-sol e começamos papear.

Encontrei o pessoal na mesa comendo a famosa porção de fritas com cheddar, bacon e catupiry e tomando um chopp na torre. Pra eles a noite estava divertida ainda e eu bodeado.
Clipes na tela, cerveja na torre, batatas nos palitos, catchup de sache, fumaça de cigarro e gelo seco, luzes piscando, pessoas desfocadas dançando ao fundo, risadas distantes, calor, um
- Acoorda jovem!!! - Hermano
- Opa! To acordado jow! Eu tava vendo...
- Acorda aí maluco que ainda são 3h !!! hahahaha
- Um brinde ao rei Davi!!! – Biga
- Aeee!!! - Todos
Pelo jeito vou trabalhar direto daqui.
Levantei de novo e fui ao banheiro jogar uma água na cara e dei uma animada.

- Eduardo e o seu?
- Advinha!!! - ela
- Começa com 'A' ?
- Não... - risos