domingo, 13 de fevereiro de 2011

Sonho, pesadelo e a realidade

Os anos passam rápido demais, mas as semanas demoram muito.
Foi um, dois ou três anos querendo e sonhando com a cumplicidade, imaginando ideais compartilhados. Como é bom viver nos sonhos, né?! Ideologia.
Você já viveu aquela sensação de sorrir ao ver um sorriso? Sorrir tanto de achar que seu peito não vai aguentar, de seus olhos se arregalarem de tanta satisfação? Suas mãos suarem levemente? E tudo por causa de um sorriso compartilhado? E quando o sorriso é acompanhado de um abraço? Aquele abraço que faz o mundo parar, perder a noção do tempo, suas pernas tremerem, esquentar, seus batimentos cardíacos superarem sua respiração. Sabe?

Foi só um pesadelo. Calma.

Dei um pulo da cama querendo saber o que eu tinha sonhado. Estava ofegante e preocupado. Abri a janela pra luz entrar e sentei na cama. Fiquei atrapalhado de sono e com a cara amassada. Fechei os olhos e busquei entender o que tinha acontecido.
Um porta retrato. Um céu azul. Um vestido branco. Um par de óculos escuros. Um abraço molhado. Sal. Vento. Era só o que eu conseguia lembrar. Olhei para o relógio e já estava atrasado para ir trabalhar.

Tomei um banho rápido. Minhas roupas já estavam no mancebo do meu quarto. Peguei as chaves e fui trabalhar sem tomar café.
No caminho, durante o trânsito, olhava - com mais curiosidade do que de costume - os carros que passavam ao meu lado na busca de algum sinal que conflitasse com o meu sonho - supersticioso, ou não?rs - . Passou uma mulher, com seus 40 e poucos anos, se maqueando no espelho retrovisor interno, um caminhoneiro comendo um pão francês com algum recheio, um casal cantando e dezenas de sonolentos e curiosos como eu.
Atrasado por atrasado, resolvi tomar um café na padaria (e um lanche de queijo branco quente).

No balcão reparei a agilidade dos atendentes e a alegria com que trabalhavam, sempre sorrindo e brincando um com os outros.
Do outro lado do balcão sentou uma moça loira, cabelos enrolados, vestida socialmente, maqueada ao tom do rosa mais claro que existe, bonita. E só. Pediu um chá gelado e um lanche natural.

Ela olhava a TV com ar de recriminação ao ver o sensacinoalismo que tratavam as enchentes e crimes pela cidade. Talvez tivesse notado que eu estava a observar seus movimentos, ficou olhando para seu copo de uma maneira que eu sabia que ela conseguia me ver. E ficou assim durante alguns segundos e eu imóvel também.

Nesse momento entrou um garoto negro, com uns 12 anos, camisa do flamengo e um pacote de balas de uvas na mão. Ofereceu de mesa em mesa, de balcão a balcão. Quando chegou em mim o garoto pediu para eu pagar-lhe um lanche.

"- Um bauru e uma coca cola para o menino aqui." - pedi.

O guri, Rafael, morava em um bairro próximo. Me contou que sua mãe havia falecido há pouco mais de 3 meses e que ele e mais dois irmãos precisavam trabalhar para não acabar como o pai - morto por policiais em uma fuga-.

Nesse bate papo rápido notei que a loira ficava a contemplar nossa conversa. Quando olhei pra ela, ela fez sinal de 'sim' com a cabeça e se aproximou.

- Oi menino. Tudo bem? Vi que o papo de vocês estava bom, desculpe atrapalhar. Mas me interessei pelo que conversaram. Meu nome é Hellen e trabalho em um programa de TV e gostaria de saber mais sobre você.

Quando terminei meu lanche, o guri já não estava mais por perto.