sábado, 11 de julho de 2009

Caixa velha

Hoje foi dia de mudança em casa. Estou no mesmo endereço, apenas levei minhas coisas pro quarto do meu irmão, que se casou há um tempinho. Agora o quarto é meu.

Mudança lembra bagunça, e dessa bagunça muitas coisas vão pro lixo e alguns lixos acabam mexendo com a gente de alguma maneira.
Revirei meu armário tirando todas as roupas, calçados, meias e todo o resto. Levei tudo para o corredor. Ainda restavam algumas coisas no armário do meu irmão ( que agora é meu ) retirei as gravatas, as meias e um cobertor que não estava no lugar certo, as malas continuariam no maleiro, voltei pro meu quarto, peguei as caixas de sapato que só estavam ali para ocupar espaço e retirei-as, uma a uma. Pegava uma e arremessava no corredor, outra idem, outra rasgava, outra pesada.. Perae! Abri a caixa para ver o que tinha dentro e não havia nada além de lembranças.

Cartas escritas por ex-namoradas, correspondências de antigos amigos, fotos velhas, uns penduricalhos diferentes, papeis irreconhecíveis, entre outros pedaços de recordações, apenas isso. Voltei ao passado por 30 minutos. Tudo passou como um filme envelhecido na minha mente. Estilo aqueles que passam acelerados em tom sépia, com alguns chuviscos.

Pensei muito naquele abraço do amigo que nunca mais aparecerá em outra foto, naquele bilhetinho de juras de amor eterno provavelmente não terá outro com valor igual - mas quem disse que tem que ter? - uma folha frente e verso sem assinar com poesias, dois correios elegantes, um deles sem assinar também, uma foto na roda-gigante, outra foto embaixo d´água, fotos de quando a família era unida com parentes de até terceiro grau, andávamos de scuna quase todo mês, outra foto deitados na sala não importando com quem, nem em que sala. Mas deu saudade.

Não saudade de alguém, mas saudade da época. Tudo era engraçado, hoje as brigas do passado são engraçadas, tudo o que já foi sério ficou engraçado, só eu, que me achava engraçado, fiquei mais sério, talvez ache isso engraçado um dia, mas por hora não. Engraçada essa contradição, não?!

Mas a caixa velha e empoeirada ainda guarda muito mais do que lembranças, guarda uma época fantástica, uma época que não voltará, uma época de amizades infinitas, de pouco dinheiro e muita diversão, de muita diversão e pouco risco, de pouco risco e muita diversão. Guarda ainda meus tempos de insegurança, como era bom não saber das coisas, não que eu saiba, mas as dúvidas de antigamente eram mais sensatas, faziam mais sentido. Ou não.

Hoje eu não tenho uma caixa pra guardar minhas lembranças, tudo está escancarado pra quem quer ver. Todos sabem dos meus anseios indiretamente, não matuto mais as minhas dúvidas, fiquei mais corajoso e mais covarde em muitas situações que não valem ser citadas, mas provavelmente você já saiba ou desconfie, afinal o livro está aberto, então fechei a caixa e o armário.

Minhas recordações não são um lixo, são apenas uma bagunça, e eu que me achava um cara organizado.

Havia ainda muito trabalho a ser feito continuei a limpar os armários e continuar a mudança. Mudança.
E meu irmão, que me acompanhou e viveu muitas coisas parecidas, está casado. Não sei se ele tem, mas talvez todos devam ter sua caixa velha muito bem guardada.
A mudança é contínua.