Uma garoa fina, céu cinza, os guarda-chuvas se esbarravam na calçada no centro da cidade logo às 6:30h da manhã, enquanto a fumaça dos ônibus, que chegavam no terminal, subiam para o céu como meu olhar que se perdia em certa altura. Em segundo plano via um garoto que corria entre os carros pendurando balas de uva nos retrovisores enquanto o semáforo ficava no vermelho. Ou verde? Ou apagado? Não vi direito, mas nesse dia ter semáforo ou não, não fazia a menor diferença.
A essa altura eu já estava atrasado, mas desisti de correr para pegar o trem - dia de chuva é assim mesmo, caos, atrasos, desculpas e comida o dia inteiro – e fui andando, aproveitando cada gota que caia na minha cara.
Com a minha calma, vi o desespero dos outros, que iam e vinham, como se fossem eu 2 minutos atrás. Olhei para os que embarcavam nos ônibus e perdi uns 30 segundos vendo aquele amontoado de carnes embrulhadas molhadas brigando por alguns centímetros quadrados, olhei para dentro da estação de trem, respirei fundo e me preparei para ser mais um desses embrulhos brigões.
Passei pela catraca e vi que o trem que me levaria para o trabalho estava na plataforma, ameacei correr quando ele correu primeiro. Desgraçado! Não sei se acontece isso com vocês, mas quando esse tipo de coisa acontece, eu fico com uma puta cara de tonto achando que todo mundo olha pra mim pensando ‘se fodeu, perdeu o trem – risada maléfica - Muaahahahah’. Então o jeito foi esperar.
Esperar trem em dia de chuva é como agachar na frente do forno e ficar esperando o bolo crescer. Doem as pernas, cansa a mente, ficamos impacientes e o bolo teima em não crescer, e o trem teima em não chegar. Após essa associação ridícula, fui comprar alguns pães de queijo, só pra ver se o tempo passava logo.
- Por favor, me dá um pão de queijo? Esse aqui ó!
Por pura coincidência – ou não -, na bancada da barraca do pão de queijo, encontrei um amigo que não via desde os tempos da escola. Ele me contou que já não namorava mais a mesma garota, ela havia se mudado para Cuiabá com os pais e ambos não acreditaram nesse namoro. Fez uma tatuagem de um dragão chinês nas costas, conseguiu três empregos depois que terminou a oitava série, mas foi demitido de todos eles, por que horário pra cumprir não é com ele mesmo, desde os tempos de escola lembro que chegava atrasado e nunca entregava os trabalhos no prazo. Conseguiu dinheiro vencendo, com um projeto que fazia desde a sexta-série, um concurso de inventores em São Paulo e abriu uma loja de equipamentos de som automotivo ali perto da estação de trem. Muitas novidades mesmo! Eu estava curiosíssimo pra saber como funcionava aquela invenção que ele escondia à 7 chaves de todo mundo, exceto do professor de física, que parecia o Tio Chico da família Adams.
Por mim, eu passaria o dia ali conversando, comendo pãozinho de queijo, vendo o desespero das pessoas, curtindo umas gotas de chuva na calça, mas a vida não é essa, né?! Notei que meu trem estava chegando. Nos despedimos e fui para a plataforma já me preparando pra guerra.
- Ohh meu Deus!!! Nããoo!!!
- Chamem uma ambulância!!!
- Ahhhh!!!
- Ohhhh!!!
Começou uma gritaria assustada, vi uma moça fechando os olhos do filho, andando em direção ao banheiro e eu, como outras dezenas de pessoas, fui ver o que tinha acontecido.
- Dá licença, o que está acontecendo? – cutuquei uma senhora
- Meu Deus, tenha misericórdia desse homem!!! Oh....
- Mas o que aconteceu, senhora?
- Pai nosso que estais no céu...
Puta que pariu, será que alguém se jogou, foi empurrado, alguém desmaiou, Jesus voltou, um rato mordeu um bebê, alguém estava pelado nos trilhos, o que acontecia, desgraça?!?! Dei mais uns cutucões na galera, mas tinha muita gente, ninguém sabia me dizer ao certo o que acontecia.
Bom, fofoca sem sucesso, muita gente lá e eu precisava ir trabalhar, fui seguindo em direção a saída ver se conseguia ao menos pegar um ônibus para ir ao trabalho, já que a estação estava tomada por guardinhas, polícia, logo chegariam aqueles jornais sensacionalistas, quando:
A essa altura eu já estava atrasado, mas desisti de correr para pegar o trem - dia de chuva é assim mesmo, caos, atrasos, desculpas e comida o dia inteiro – e fui andando, aproveitando cada gota que caia na minha cara.
Com a minha calma, vi o desespero dos outros, que iam e vinham, como se fossem eu 2 minutos atrás. Olhei para os que embarcavam nos ônibus e perdi uns 30 segundos vendo aquele amontoado de carnes embrulhadas molhadas brigando por alguns centímetros quadrados, olhei para dentro da estação de trem, respirei fundo e me preparei para ser mais um desses embrulhos brigões.
Passei pela catraca e vi que o trem que me levaria para o trabalho estava na plataforma, ameacei correr quando ele correu primeiro. Desgraçado! Não sei se acontece isso com vocês, mas quando esse tipo de coisa acontece, eu fico com uma puta cara de tonto achando que todo mundo olha pra mim pensando ‘se fodeu, perdeu o trem – risada maléfica - Muaahahahah’. Então o jeito foi esperar.
Esperar trem em dia de chuva é como agachar na frente do forno e ficar esperando o bolo crescer. Doem as pernas, cansa a mente, ficamos impacientes e o bolo teima em não crescer, e o trem teima em não chegar. Após essa associação ridícula, fui comprar alguns pães de queijo, só pra ver se o tempo passava logo.
- Por favor, me dá um pão de queijo? Esse aqui ó!
Por pura coincidência – ou não -, na bancada da barraca do pão de queijo, encontrei um amigo que não via desde os tempos da escola. Ele me contou que já não namorava mais a mesma garota, ela havia se mudado para Cuiabá com os pais e ambos não acreditaram nesse namoro. Fez uma tatuagem de um dragão chinês nas costas, conseguiu três empregos depois que terminou a oitava série, mas foi demitido de todos eles, por que horário pra cumprir não é com ele mesmo, desde os tempos de escola lembro que chegava atrasado e nunca entregava os trabalhos no prazo. Conseguiu dinheiro vencendo, com um projeto que fazia desde a sexta-série, um concurso de inventores em São Paulo e abriu uma loja de equipamentos de som automotivo ali perto da estação de trem. Muitas novidades mesmo! Eu estava curiosíssimo pra saber como funcionava aquela invenção que ele escondia à 7 chaves de todo mundo, exceto do professor de física, que parecia o Tio Chico da família Adams.
Por mim, eu passaria o dia ali conversando, comendo pãozinho de queijo, vendo o desespero das pessoas, curtindo umas gotas de chuva na calça, mas a vida não é essa, né?! Notei que meu trem estava chegando. Nos despedimos e fui para a plataforma já me preparando pra guerra.
- Ohh meu Deus!!! Nããoo!!!
- Chamem uma ambulância!!!
- Ahhhh!!!
- Ohhhh!!!
Começou uma gritaria assustada, vi uma moça fechando os olhos do filho, andando em direção ao banheiro e eu, como outras dezenas de pessoas, fui ver o que tinha acontecido.
- Dá licença, o que está acontecendo? – cutuquei uma senhora
- Meu Deus, tenha misericórdia desse homem!!! Oh....
- Mas o que aconteceu, senhora?
- Pai nosso que estais no céu...
Puta que pariu, será que alguém se jogou, foi empurrado, alguém desmaiou, Jesus voltou, um rato mordeu um bebê, alguém estava pelado nos trilhos, o que acontecia, desgraça?!?! Dei mais uns cutucões na galera, mas tinha muita gente, ninguém sabia me dizer ao certo o que acontecia.
Bom, fofoca sem sucesso, muita gente lá e eu precisava ir trabalhar, fui seguindo em direção a saída ver se conseguia ao menos pegar um ônibus para ir ao trabalho, já que a estação estava tomada por guardinhas, polícia, logo chegariam aqueles jornais sensacionalistas, quando:
- Foi aquele ali, policial !!! – uma mulher negra, bem gorda apontava em minha direção.
Eu olhei pra trás para confirmar se era para mim que ela apontava. Era eu mesmo.
- Foi ele policial, eu tenho certeza !
- Desculpe, mas fui eu o que? – eu assustado, respondi.
- Foi ele, foi ele !!!
Sem entender nada, fui levado para uma sala separada da multidão na própria estação de trem, só tinha uma mesa de madeira e uma TV pendurada. Fiquei lá por 2 horas e trouxeram uma fita que diziam ser de uma das câmeras de segurança. Tudo bem. Eu só precisava avisar que não iria trabalhar nesse dia, mas ninguém me emprestou sequer um celular ou um cartão telefônico. O meu celular havia ficado embaixo da cama carregando. Mais uma vez, tudo bem. Amanhã explico a situação.
Ligaram a TV e um aparelho semelhante à um vídeo-cassete, ambos velhacos. Eu não parava de pensar nas senhoras assustadas orando, a mãe fechando os olhos do filho, e eu ali trancado naquela sala, curioso para ver o que havia na fita, batendo meus pés, ansioso.
Olhei para a TV sem entender nada. E o policial olhava para minha cara, de braços cruzados, com uma cara que não negava estar puto da vida, sei lá com o que, talvez comigo. Era eu ali, na TV, conversando com meu amigo, comendo alguns pães de queijo. Passaram-se mais de 20 minutos de agonia, eu vendo a fita. E a gritaria lá fora continuava. Terrível.
Quando o vídeo acabou, me levantei, abri minha carteira e paguei meus pães de queijo que havia esquecido à senhora gorda.
Saí da salinha e aproveitei, já que não ia trabalhar, para dar uma passada na loja de som do meu amigo, enfrentei mais uma garoinha, vi mais uma galera se estapeando pra entrar nos ônibus e cheguei na loja, branca e azul, bonita, cheia de carros e música, perguntei pelo meu amigo, mas ele não estava.