terça-feira, 27 de dezembro de 2016

ANSIEDADE POR ANSIEDADE

Ela não me deixa dormir.
Meu corpo fica estranho. Que sensações são essas?
Quero já, quero agora. E tudo ao mesmo tempo.
Vai ser legal. Vou resolver. Não quero passar por isso.
E o tempo não passa.

Dói o estômago. Os músculos travam.
Meu humor muda. É incontrolável.
Suo pelos pés, pelas mãos, pelo corpo inteiro.
Não existe posição confortável.
E o tempo não passa.

Será que vai dar tudo certo?
Qual o melhor caminho?
Minha estratégia é adequada?
Será que só eu me sinto assim?
E o tempo não passa.

Coração acelera e o relógio não.
Sinto minhas veias pulsarem num ritmo descompassado.
Respiro fundo numa ilusão de voltar ao controle. Não há controle.
São muitas perguntas para apenas uma vida.
E o tempo não passa.

Deitado e coberto. O calor e frio se revesam a me incomodar.
Buscava entre meio milhão de pensamentos a resposta de como seria.
E no fim... o tempo passou. Não há controle.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Correria

E já é fim de ano outra vez. E o que você fez?

Acorda cedo, pensa numa desculpa pra não levantar, levanta.
Toma banho apressado, come rápido (as vezes nem come), corre pra não perder a condução.
Faz a transferência pra outra condução e espera chegar.
Chega.
Anda no meio das pessoas, sobe o elevador. UFA! Chegou! Correria!
Trabalha, trabalha, facebook.
Trabalha, whats app, e-mail, trabalha, trabalha.
Almoço.
Trabalha, trabalha, enrola... cafezinho... começa a imaginar a noite...
Pega trânsito pra ir pra faculdade, pega outra condução.
Busão lotado, fedor insuportável. Não dá pra piorar!

CHUVA!

Trânsito parado, celular sem bateria, bafo quente no busão!

Chega atrasado na aula, tá com sono.
Não jantou.
Estuda, dorme, estuda, cochila, conversa.
Vai pra casa.

Torce pra não ser assaltado.
Pega busão, pega outra condução.
Chega em casa. Tarde de novo.

Come alguma coisa rápido, calcula quantas horas vai dormir.
Se frustra, abre o facebook, perde mais duas horas de sono.
Dorme, acorda atrasado.

Acorda cedo, pensa numa desculpa pra não levantar, levanta.
(...)

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Ideologia, eu quero uma pra viver.

Eu gosto de histórias de amor com finais felizes (e com outros tipos de finais também).
Histórias de amizade e histórias de família também me agradam. Histórias de admiração e de respeito me empolgam. Quando enxergo sinceridade e consciência, acho fantástico.

Parei para pensar nas últimas histórias que tenho ouvido e poucas delas me provocaram bons sentimentos. (Na verdade não me lembro de nenhuma boa história, mas, para não ser tão generalista, vou dizer que poucas foram positivas.)

Eu vivo num dilema entre: o que é exatamente real pra mim e o que é exatamente real pro outro? E isso, muitas vezes, é frustrante.
Vejo as pessoas correndo pra lá e pra cá, sem tempo pra nada. Sem tempo para um conselho, sem tempo para um abraço, sem tempo para o filho, sem tempo para o namorado, sem tempo para os amigos, sem tempo para não fazer nada, sem tempo para olhar o tempo. Afinal, para onde estão correndo? Porque? Até quando?

Vejo situações de completo desrespeito. No trânsito, na empresa, nas casas, ao vivo, no youtube, etc... Afinal, onde estão os valores e princípios? Existe isso? Ou é uma fantasia minha?
Tenho uma preocupação infinita para não fazer parte desse grupo que enxergo como 'corredores alienados'. E não quero ser pejorativo na forma da citação, mas é que, com tantas cobranças, com tanta ambição, com tantas regras a serem cumpridas, com tanta competição, parece que se esquecem / não se preocupam / não têm tempo para avaliarem os porquês. (E precisa?)

Será que é manipulação, alienação? Ou ambas andam juntas?
Merda! Isso é muito complexo. Eu sinto que não tenho condição e estrutura pra conseguir chegar a uma conclusão. Será que eu estou errado? A ignorância é realmente uma dádiva?

Por mais que eu tente enxergar as 'coisas lindas do mundo', vêm esses pensamentos de que tudo é podre e que o dinheiro manda nas pessoas.
Em mim não, não em mim! (Quero acreditar nisso).

É muita prepotência minha considerar as pessoas 'medianas' ? (sendo bem positivista na avaliação).
Mas é assim que enxergo a maioria delas: Estudando para conseguir um bom emprego. Em um bom emprego para pagar os estudos e, com estes, poderem continuar no bom emprego. Emprego para pagar o carro, o carro que leva para o trabalho. Dinheiro para conseguir mais dinheiro. Essa roda não tem fim? Que pressão é essa? Porque viver nessa "correria"?

Cadê as histórias de amor? As histórias das vitórias coletivas? Cadê a poesia nisso tudo? É fantasiar demais? Isso nunca existiu e eu fui iludido? Sério que tudo isso que eu imagino é uma grande mentira? Minha visão está deturpada? Como você enxerga tudo isso? (Não me venha com "é assim mesmo" e outros conselhos clichês... economize a minha paciência.)

Quero acreditar que não estou enganado.
Quero acreditar que eu posso desenvolver um bom trabalho, para conseguir um bom dinheiro para manter confortavelmente a minha família, que eu consiga fazer viagens, que meu trabalho seja relevante, que eu possa ajudar o maior número de pessoas a conquistarem mais conhecimento, que este conhecimento as guiem pelos verdadeiros caminhos delas. É utópico?

terça-feira, 15 de maio de 2012

O garoto que não conseguia sonhar I

Eu não tenho sonhos.
Há muito tempo venho pensando nisso.

O que eu quero pra minha vida? Como estarei daqui há alguns anos? Quanto esforço terei de dispor para alcançar o que almejo? O que eu almejo?

A primeira lembrança minha que tenho como gente, beira os meus 13, 14 anos, quando eu ia e voltava da escola sozinho de ônibus ou de bicicleta. Apesar da superproteção da minha mãe, ela, de certa forma, confiava em mim e na minha sorte (que eu adorava abusar).
Tantos amigos visitavam a minha casa, jogávamos bola na rua, no parque e na escola. Entrei na aula de violão e, a partir daí, encontrei uma paixão. A música.
Não sou virtuoso, nem tão pouco estudioso, mas gosto. E foi uma das poucas coisas que gostei, de fato, na minha vida. Nunca gostei de carros, não gostava de tecnologia, nunca fissurei em celular, roupas de marca, nem acessórios de vestuário, nem de séries de TV. Eu gostava do meu violão, dos passeios de barco com a minha família e de me reunir num estúdio com a minha banda. 

Ah! Eu gostava também de colorir aquelas revistas pra criança, até hoje ainda gosto. Uma vez meu tio apareceu com um anúncio de revista em casa e eu fiquei impressionado com aquelas cores.- "Serei publicitário". - Pensei, desde então. Sem uma completa noção do que era um publicitário, obviamente.
Consegui o meu primeiro estágio aos 14 anos em uma agência de publicidade como aprendiz de designer gráfico, nunca abandonando minhas bandas que, ao longo do tempo, foram se desfazendo por conta de mulheres, por conta de "falta de tempo", por brigas ou por desinteresse mesmo. Mas a música não saia de mim, nem eu dela.
Qualquer lugar que eu visitava, bar, casa de num sei quem, eu sempre tinha um olhar clínico pra perceber se havia instrumentos musicais no local e também reparava na comunicação visual dos mesmos. Dois quadros, um vaso sem o menor nexo, chão manchado, um case de violão. Eu reparava em tudo. Não se estava arrumado ou desarrumado, mas se haviam cores combinando ou alguma peça musical.

Conheci minha primeira namorada.

... continua ...

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Carta não perecível

Esse texto não tem muita coisa de diferente não. Fala de amor, de choro, de raiva e de angústia sentimental. Todo aquele bla bla bla que, se você leu outros textos, já sabe como funciona.

Eu escrevi essa carta olhando velhas fotografias, bilhetinhos, e-mails e ouvindo uma música instrumental triste, tocada em piano e percussão somente. Só pra dar aquele clima meio roxo e triste, como os filmes fazem.

Olhei para nossas fotografias, reli nossos e-mails e trocas de mensagens num ritual macabro de auto-sabotagem, mutilação e repúdio de um passado parcialmente verdadeiro, traduzindo ao sumo a dor e todo rancor dos nossos arrependimentos, disso entendemos. De arrependimentos.

Eu e você, na real, gostamos de sofrer. Ai de você, se você não concordar! De ver o que não gostamos, de dar aquela olhadinha pra ver como está, se está, enfim. 'Curiosiar' a gente sabe bem o quê. Que seja a rede social, ou se andou fazendo novas amizades por aí, postou alguma coisa no blog, enfim, futricar. E quando damos de cara com algo que não gostamos... dói.

Queremos encarar os problemas de perfil. A dor, de certa forma, satisfaz a nossa curiosidade. Que idiotice, não?! Trocamos uma interrogação por uma lágrima, ao invés de mudarmos o foco. Já ouvi muito esse conselho. Já te dei esse conselho e você já disse isso pra mim muitas vezes. Brincamos conosco. Somos uns lixos!

Seria clichê falar dos climas fazendo elo com nossas emoções, mas eu gosto e acho bem plausível para o momento.

E esse calor que emenda os amores, como numa fundição o aço é unificado?Aquela sensação que a gente confunde com nossos pensamentos, se entrega sem medo do 'e se...'. E vai. E quando pensa, já foi.Insisto em dizer que o começo do ano é onde os amores nascem, no inverno se aproximam e no final do ano se desfazem. Não sei se é lógico, matemático ou puro azar sobre as coisas que eu vejo ou vivenciamos, mas tenho isso pra mim como 1 e 1 são 11. 
Tudo é violável e substituível, exceto meu amor sem prazo de validade.


Uma vez me disseram que é normal sofrer por amor, que todo mundo sofre, sofreu ou vai sofrer um dia. O melhor disso é que a dor não dura pra sempre. Vamos pagar pra ver até onde nosso orgulho e sofrimento nos levarão?

Escrevo para não transbordar minhas emoções em nossas recordações.
Dói, ainda dói sim, dói demais esperar o telefone tocar e você não mais me ligar.
Dói não ter sua poesia expressa na minha caixa de entrada.
Dói, ainda dói sim, dói não ter o seu cheiro no meu travesseiro.
Eu quero mais uma hora com você. Mais 60 minutos de conversa e daqueles beijos que só a gente sabe trocar.
E mais a vida inteira pra gente repetir tudo isso quantas vezes quisermos. E pelo que te conheço, serão muitas.
Me liga, pode me ligar! Faça valer o que dizia sem parar, que só o amor basta pra ficarmos juntos. Que isso é fora do normal e que a gente se completa. Suplico, nessa carta, em forma de última tentativa que a gente fique juntos. Eu quero! Eu quero! Eu quero que você queira também. Pense nisso?
Me liga, pode me ligar! Faça valer o que dizia sem parar.

Beijos,
seu amor.

P.S.
Não ligo se pareço fraco. Você me conhece quando estou forte, sei que não se esquece disso!

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

O Inventor

Cabelos pretos e bagunçados, típico de maluco. Andava de um jeito acelerado. Atrasado, derrubava os papeis pelo salão principal do prédio que morava.
Enquanto pegava um ponhado de papel que caia, derrubava as chaves de casa e do carro, perdia mais tempo se apressando do que se arrumando. E não ligava pra nada disso.
Por diversas vezes deu de cara com o vidro que separava o hall do prédio da escada da portaria. Mas nem se dava conta, achava tudo normal.
"Bom dia, tudo bem?!" tímido, representava isso só com um balançar da cabeça, pro porteiro e pra moça do Yakult. Abria o porta malas do carro e arremessava toda papelada e sua mochila lá. Do jeito que caia, ficava.

Ele sabia que era motivo de chacota da molecada do prédio e percebia que alguns adultos evitavam entrar no mesmo elevador que ele, mas não se abalava a princípio, mudava o foco do pensamento e já lembrava de alguma canção. Só queria chegar ao seu destino e fazer suas coisas. O resto era só o resto mesmo.

No toca fitas do seu carro tocava artistas que só ele conhecia. Canções de blues, rock anos 80 e, em dias mais cinzas, desligava o som. Na ida ou na volta também curtia as rádios AM que ficam passando notícias o dia todo.
Ele odiava semáforos vermelhos, calculava sua velocidade para pegar todos verdes até a avenida principal. Aí de lá fugia de seu controle. E no controle ele queria estar sempre. Gostava de prever, calcular hipoteses e arriscar. Não era um cara de muitos amigos, mas era admirado por quem "o conhecia". Uma pena ele não saber disso.

Ele morava sozinho, não se sabe como chegou ao condomínio, raras vezes pedia uma pizza e recebia uma visita. Os volumes de seu apartamento eram moderados e suas contas estavam sempre em dia.
Não gostava de baladas, nem de televisão. Não bebia e não fumava.

Aos domingos, colocava sua bermuda azul escuro de 'tactel', seu tênis branco e uma camiseta qualquer para caminhar no parque. Saia pontualmente às 7h para caminhar. Dados exatos 30 minutos de caminhada, ele se sentava em um banco onde o sol podia alcançá-lo e ficava olhando.

Seus óculos embaçam por causa do suor, arrisca ficar sem eles por diversas vezes, mas só enxerga cores em movimento. Desiste, recoloca os óculos, apoia os cotovelos nos joelhos, cruza as mãos cutucando uma folha e olha, só olha. Olha tudo a sua volta.

A garota de patins, o gordinho suado, o bombado na barra, a molecada com uma bola, um casal com o cachorro, o chafariz, a menina e seu livro na grama, o garoto com seu violão, o gurizinho e sua pipa,  a gordinha e o sorvete, o ambulante e sua pochete, a gostosa de sainha, a bicicleta e a corrente, a senhora e sua garrafinha de água, o grupo de dança, o segurança e seu rádio, a faxineira e sua vassoura, a nuvem e o céu, o vento e as árvores, ele, o banco, tudo isso e seus pensamentos desalinhados.

Levanta, decide caminhar mais um pouco, dessa vez no contra-fluxo dos que estão correndo.
Leva algumas esbarradas, mas segue firme. Repara alguns olhares de reprovação por estar na 'contramão', mas não para. O ritmo dos seus passos começam a ganhar velocidade e segue. Olha para o chão e olha pra frente respirando em bit acelerado. Conta quantos passos está dando e quantas pessoas passam por ele. Metódico, inventando novas manias. Quinze passos e 8 pessoas. Três mulheres e cinco homens. Trinta passos, vinte pessoas. Segue aumentando o ritmo e levanta o pescoço para que o vento refresque seu rosto. Um, dois. Um, dois. Um, dois. 
Adora a sensação.

- "Cuidaadoo!" - Alguém grita.

Ele tropeça em alguma coisa e cai. Por lá fica alguns instantes.
Alguns riram impulsivamente.
Outros se desesperaram.
Alguns fingiram que não viram.
Outros ficaram com pena.
Alguns acharam 'bem feito!'.
Outros queriam ajudar.
Alguns sabiam o que fazer.
Outros não arriscaram estender o braço.
A maioria se aproximou pra ver o que estava acontecendo. E só ficaram olhando. E olhando.

Ele abriu os olhos calmamente, não dirigiu uma palavra a ninguém. Levantou pacientemente, recolocou seus óculos levemente retorcidos, olhou a expressão das pessoas que estavam ao seu redor, com os braços abriu espaço para passar no meio daquela muvuca, ouviu um pedido de desculpas sendo gritado ao fundo, um burburinho qualquer e seguiu curtindo o vento em seu rosto. Ganhando velocidade no contra-fluxo. Um, dois. Um, dois. Joelhos e cotovelos levemente ralados ardiam e se refrescavam na brisa que recebia.
Quanto mais rápido, mais refrescante, menos dor.
Quanto mais lento, menos refrescante, mais dor.
Pensou.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Trinta e uma linhas

Eu tenho dois segredos que guardo no meu peito
Um é poesia, outro uma canção.
Prosa, rima e versos suaves para o ouvido
Peso, melancolia e desespero para o coração.

Um tem o ritmo que quisermos recitar
Outro tem levada forte que não dá pra controlar.
É canibal e doloroso, é sereno e prazeroso.
É certeza e quente, é duvidoso e inconsequente.

Eu tenho dois segredos que guardo comigo
É catástrofe e confortante, é paz e perigo.
É pressa e ansiedade, é garoa com sol no sábado a tarde.
É heterogêneo e uniforme, é um mix que não dorme.

É agito da madrugada na mata do interior
É silêncio na balada, o frio que passa calor
É segredo e não conto,
É um grito de amor, um conto.