terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Antes da luz acender

Pelas madrugadas anteriores, o frio intenso que cortava os lábios era o mesmo que cortava os corações e, de alguns, até confortava. Estranho conflito, em minha opinião.
Enquanto essas noites cortantes corriam pelo lado de fora das nossas vidas, nos cortávamos entre declarações e frases sinceras, machucantes e entregáveis. De certo as ideologias evidenciavam as brutais diferenças dos dois, mas um calor emanava em sincronia, amaciando todos os sentimentos de angústia, insegurança e desconfiança. Do que se trata, afinal? Acaso?

Nunca me considerei uma pessoa controladora, nem possessiva. Isso até ontem.
Foram muitas sinceridades trocadas, assuntos que acredito que poderiam ser facilmente evitados, melhorias sugeridas e raiva. Ódio, descontentamento, decepção, asco, rebeldia Eu quis estar no controle.
O sorriso e o olhar profundo mexiam com todos os meus sentidos, ela conseguia me controlar sem dizer uma palavra, sem fazer qualquer gesto, tudo com o “simples” emanar de calor.
Sem medir as conseqüências, o passado foi sendo jogado sem direcionamento um ao outro como se fosse possível controlar os sentimentos. Do que se trata, afinal?

É diferente de tudo o que eu já experimentei, singular. É certo e intenso. Crescente e dependente, da causa e do efeito. Um contrato sem cláusulas definidas com objetivos subentendidos. Sem certo e errado.
As luzes apagadas acendem a chama de que tudo vai dar certo, o clima estava criado e as nossas músicas tocavam sem parar. Todas elas. Eu não me lembro de nenhuma.
Que o calor não esfrie, que as músicas toquem, nos toque, a quem e quando for, que seus cabelos possam continuar dançando no meu peito, que sua voz seja música em todas as claves, todos os tons e que sua sinceridade seja estímulo aos nossos desejos, que tua pele continue neste tom e sabor meu.
Os cantos que poderiam ter sido nossos viraram retratos em memória, não me abraçam a tristeza e a solidão. O copo está cheio.

O escuro é a única testemunha da verdade vivenciada. Antes da luz acender, podíamos nos ver. Internamente. Interna a mente. A mente não mente. Pelo menos com o breu aceso.
Do que se trata, afinal?