terça-feira, 24 de março de 2009

É cada uma...

Eu trabalho no décimo andar de um prédio que tem 11.

O hall deste andar é simples e frio. Ao sair pro hall, há dois elevadores e no fim do corredor – que nem dá pra correr de tão pequeno –, ao lado esquerdo, tem uma porta grande que é o acesso às escadas internas do prédio, ao lado desta porta há duas janelas que dão visão para um outro imenso prédio comercial. Todos os dias eu paro uns cinco minutos pra tomar um café e pra admirar detalhadamente essa paisagem.

Ele é mais alto, mas nunca parei pra ver o quanto. Ele é ladrilhado em vários tons de azul claro e azul escuro. De longe não dá pra perceber isso, são como pixels que formam um único tom de azul.

As pessoas do prédio ao lado não se importam em baixarem sempre suas persianas e eu fico olhando todas as salas que eu consigo.

Tem um cara com um computador com uma tela de umas 40 polegadas, parece uma TV. Esse gosta de ver tudo grande.
Aquela tela é realmente bonita, sempre tem um mapa do google maps aberto ou um gráfico que nem imagino do que seja. Não dá pra ler.

Na janela de baixo tem uma menina linda que, por várias vezes, já a peguei segurando o ventilador de frente pra si balançando os cabelos por muito tempo, até não conseguir respirar. É engraçado. Uma graça, ainda vou conhecê-la. Tem uma faxineira, na mesma sala, que sempre derruba panos pela janela.
Na sala ao lado tem um cara que faz malabares com bolinhas de papel. Sozinho. Sem querer fazer graça pra ninguém. Quando comecei a trabalhar aqui ele fazia só com duas bolinhas, hoje já consegue com quatro e arrisca, de vez em quando, com cinco.

Nunca vi nenhum chefe dando uns catas na secretária ou um empregado vendo sacanagem na internet. Já vi comemorações de aniversário – confesso que até eu queria um pedaço daquele bolo – e já vi algumas discussões também.
Em dias de chuva alguns esquecem de fechar a janela e quando se dão conta já está tudo ensopado.

De vez em quando fico imaginando o que essas pessoas gostam de fazer quando não estão no trabalho. A menina do ventilador, por exemplo, com seus cabelos compridos ao vento, deve sonhar ser modelo. Ou pára-quedista? O malabarista talvez queira ser barman, trabalhar com artes circenses, ou não saiba nem o que ele deve fazer na empresa, quanto mais fora. A faxineira deve ter problemas demais e acaba se descuidando, derrubando tudo.

Tem um restaurante aqui na frente onde muitas pessoas destes prédios comerciais vão almoçar e é mais um lugar que eu gosto de ir. A comida é gostosa, a maioria das meninas também, as pessoas são bonitas, o ambiente é agradável e tem uma TV gigante passando Globo Esporte.

Eu fico olhando as pessoas.
Umas aparentam estarem preocupadas demais, ficam remexendo a comida, tomam o suco pela metade, as mãos não saem da testa e a gravata é afrouxada diversas vezes.
Outras dão risada de tudo, a ponto de quase não deixarem-me ouvir a TV ou a conversa do pessoal da mesa de trás.

Por falar nisso uma vez peguei essa galera falando de outras pessoas.
Falaram que o Fernando é viciado em filme pornô. O Julio cola tudo que sai de seu nariz embaixo da própria mesa e a Dona Geni, entendi ser a faxineira da empresa, disse que não limparia “aqueles coisos” por nada. A 'periguete' Fernanda saiu com dois no sábado, um a tarde e outro a noite. O Carlos veio duas vezes bêbado trabalhar na última semana, mas pelo menos fez o que tinha que fazer. Falaram do porteiro, que sempre lança uma cantada pra Isa. Comentaram que tem um cara no prédio vizinho que cada dia ta com um cabelo diferente. As vezes veste social, as vezes parece que acabou de acordar. É meio-loiro-meio-castanho-claro. Vive com uma mochila nas costas e encosta na janela todo dia pra tomar café e fica olhando pros andares de baixo fazendo comentários pra si mesmo. O cara não deve ter o que fazer.

Se tem uma coisa que eu odeio são pessoas bisbilhoteiras que ficam falando e vendo o que as outras pessoas fazem ou deixam de fazer. É cada uma...